26 novembro, 2008

Estórias Brincantes de Muitos Paizinhos – O processo

Tudo começou com uma música: “você me abre seus braços e agente faz um país”. A idéia de explorar o tripé: pai, país e paz. Depois disto, muito grupo de estudos sobre arte-educação, Paranismo, as colonizações paranaenses, Biocentrismo (nós somos o resultado de milhões de encontros) e claro a relação pai e filho, mas pensando também na relação com o nosso pai, algo intimo. Mas, paralelamente estudávamos as relações de poder (Focault), estudos diferentes, informações que se misturam e complementam. O que é pai? Quem é o pai? Quem é o nosso pai? Qual a importância do pai? O que falar do meu pai, se sou filha de mãe solteira? Algo tão delicado para ser mexido, para ser explorado, tanto em mim, como para o espetáculo... Conclusões que ficaram em mim desta primeira etapa: a presença do meu pai é tão forte como sua ausência. Depois de muito estudo, muitos conflitos, muitas discussões, muitas informações. Chegou à hora de passar isso para o corpo, para o palco, as improvisações. Três atores que estão começando uma carreira profissional, que pela primeira vez participam de um processo de criação coletiva/ colaborativa, ou seja, muito difícil!! A busca por idéias criativas ou até mesmo a disputa (inconsciente) de quem dá mais idéia, ou as melhores idéias. No meio disto estava eu, sem idéia alguma! É até irônico pensar, mas eu me sentia assim, passiva, sem muitas idéias para sugerir, mas tentava embarcar nas propostas. Muitos momentos pegavam em questões internas minhas, não vivi historias com meu pai, como vou sugerir? Como falar do pai herói, se não acredito na existência desta figura? Com o auxilio e apoio do grupo, consegui quebrar muitas barreiras por um objeto comum “Estórias Brincantes de Muitos Paizinhos”. Cada co-diretor trabalhando um tema, cada um de uma forma, com focos diferentes, por suas afinidades em diferentes linguagens: visuais, coreográficas e/ou dramatúrgicas, etc. Varias cenas criadas, pareciam não se encaixarem, estéticas completamente diferentes. Mas com muita experiência e sensibilidade a nossa diretora Letícia Guimarães soube resolver muito bem este quebra-cabeça. Criando cenas e criando personagens, que desde as primeiras improvisações mudaram muito. Como paralelamente estávamos trabalhando “A-Corda”, onde um dos focos é o corpo preciso, os personagens dos “Paizinhos” foram sendo criados com esta busca também. A precisão, onde começam e terminam os movimentos, movimentos pontuados até se tornarem orgânicos. A busca por características fortes de cada personagem, sons, vozes, corpos, resultado: “dor de Tinga”. Espetáculo pronto nasce mais um filho da Cia do Abração. Acabou o processo? Não! Como todos os trabalhos da Cia, ele esta sempre sendo revisto, aprimorado, os atores vão tendo mais consciência do trabalho, os personagens vão criando mais vida, cada apresentação uma nova percepção. Apesar de algumas dores internas e externas, conflitos, entre outros, depois do espetáculo “pronto”, faz perceber que tudo valeu a pena!

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